Querido Diário: Quando, e como, tudo começou

Querido Diário

Essa postagem é para contar a vocês como foi que eu fiquei ostomizado. É sempre um choque num primeiro momento olhar para o seu corpo e ver aquilo ali em você. E fica ainda mais tenso quando você vê seu intestino ali para fora. Bem, mas vamos deixar de conversa mole e conta logo como tudo começou.

Tudo aconteceu em 2013. Eu tinha redescoberto o amor, tinha acabado de me casar novamente e tinha ido para o Rio de Janeiro, dar entrada na minha aposentadoria proporcional e levar a minha vida em João Pessoa, na Paraíba. Eu estava trabalhando em períodos de 45 dias direto, em regime de plantão acumulando folgas, no Rio de Janeiro e depois curtia essas folgas de 15 dias em João Pessoa ao lado da minha esposa. Bem, como todo de conto de fada tem sempre uma reviravolta, a minha foi que tive uma crise de apendicite aguda, de quase ruptura dela, que começa em casa e segue comigo até o trabalho. Eu trabalho o expediente todo e vou para casa me arrastando e depois a dor foi só piorando. Foi um corre corre danado, chama a SAMU, leva para a UPA da Região Oceânica de Niterói e depois para o hospital Alberto Torres em São Gonçalo, onde eu ia fazer um exame de imagem.


Ai as coisas começam a piorar, descobrem um câncer de cólon, e eu não podia operar, pois estava anêmico por causa da câncer. Corre atras dos doadores. Aí vem um problema inesperado: A- . Eu não sabia que sangue A- era tão difícil de encontrar. Problema resolvido. Vai eu tonar sangue para poder operar antes do apêndice romper. Tensão total. Fazem um exame e eu estava no limite para operar. Então lá vou eu pro centro cirúrgico e nesse caminho eu não queria outra coisa a não ser que a dor parasse e eu pudesse voltar bem pra casa. Vejo a médica que vai me operar e o anestesista vem conversar comigo e dali pra frente eu não lembro de mais nada.

Acordei não sei quanto tempo depois numa sala branca, fria, e eu enrolado. Estava com sede e fiquei olhando ao redor pra ver se via algo ou alguém que se parecesse com uma pessoa viva. Até ali eu não sabia se estava encarnado ou se tinha desencarnado. E se passaram exatos 27 minutos até que aparecesse alguém por ali. Te digo uma coisa, foram os 27 minutos mais longos da minha vida. Eu ali nesses 27 minutos refleti sobre um monte de coisas da minha vida, sobre mim, sobre o amor, sobre a vida, sobre escolhas, sobre a família, sobre os filhos, sobre mudanças, sobre trabalho, mas principalmente de arrependimentos e certezas.


Apareceu um enfermeiro que foi extremamente amável comigo e me deu água e levantou o lençol para olhar uma coisa e foi aí nesse exato momento que eu descobri que estava ostomizado. Estava ali uma bolsa pendurada em mim. Meu intestino estava para fora. Fiquei em pânico num primeiro momento e ele foi falando comigo e disse que vinha alguém conversar comigo sobre a bolsa, para falar de como trocar e outras coisas importantes. Eu perguntei se ia usar aquilo para sempre e ele me disse que só o meu médico iria saber essa informação. 

Depois de algum tempo vem o médico, já quando eu estava em outra sala, e conversa comigo e me diz que a bolsa de colostomia que eu estava usando era porque a cirurgia foi de emergência e que como não teve o tempo necessário para fazer os procedimentos de limpeza do intestino o uso da bolsa era necessário. Ai vem a pergunta que estava já pronta pra sair: Mas eu vou ficar com isso para sempre?

Ele me responde que a minha é provisória, mais que religar é uma decisão para o futuro, que passa pela avaliação do meu oncologista depois de eu ter feito o tratamento e da minha evolução física. Eu pergunto: que evolução física? E ele me responde, que se meu intestino vai manter os movimentos depois do tratamento e ao longo dos 5 anos em que eu inicialmente ficarei com a bolsa de ileostomia.


Bem essa informação se tornou um tormento para mim, pois toda hora eu olho para ver se ele (as duas partes se mexem). E foi nesse momento também que eu comecei a passar pelos estágios que vão desde o medo, ansiedade, indignação, reclusão e depois de algum tempo de aceitação pelo fato de estar ostomizado.

Agora na próxima postagem vou falar sobre a adaptação da minha nova vida a bolsa de ileostomia/colostomia.

Deixe ai nos comentários como foi a sua primeira vez. 

Abraços

Robson Freire

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